Apesar de ser um gênero feito para assustar, filmes de terror às vezes nos fazem rir. Intencionalmente ou não. Uma boa combinação desses elementos criou a quadrilogia “Pânico” e “Arraste-me para o Inferno”, bons exemplos de produções que seguem a risca os moldes do horror, sem nunca perder o senso de humor em cima de todo o ridículo da história. “O Segredo da Cabana” é o mais novo exemplo desse estilo e o meu review abaixo contêm alguns spoilers leves – que considero spoilers apenas por que a sinopse do filme não os revela, apesar da primeira cena já deixar tudo bem claro.
“O Segredo da Cabana” mostra o clichê do grupo de amigos universitários que embarcam em uma viagem para uma cabana no meio do nada para curtir um final de semana e, claro, coisas erradas acontecem. Mas o filme não é simplesmente isso: a tal floresta onde fica a cabana, na verdade, é um gigantesco complexo disfarçado onde cientistas manipulam eventos que levam os quatro jovens a situações clichês do gênero de terror. Uma metáfora óbvia ao papel dos roteiristas de uma produção, nada que acontece por lá é simplesmente por acaso e tem todo um estudo por trás.
Nada é ensaiado, na verdade, tudo é bem real – para os personagens do filme, ao menos. Vou evitar aprofundar mais na mitologia, mas basicamente tudo que acontece é por uma razão e a metáfora da história não é jogada lá por puro ineditismo. Ao mesmo tempo em que isso é um aspecto positivo do filme (nada é gratuito, mostrando que o roteiro foi melhor pensado além da boa ideia), acredito que compromete um pouco a diversão. Quando tudo é revelado para as vítimas da história, “O Segredo da Cabana” se torna um absurdo de referências, algo divertido, mas o humor da metalinguagem se esvai rápido. A possibilidade de brincar com clichês e elaborar em cima do gênero some após a primeira metade do filme, o que é uma pena, pois o potencial poderia render mais.
Não estou querendo criticar a obra por não ter sido algo que eu queria. Mas sim, acho que o resultado final ficaria mais interessante se nós passássemos mais tempo acompanhando os cientistas manipulando o “jogo” de terror.

À lá “Pânico”, cada personagem segue um arquétipo.
O filme é dirigido por Drew Goddard, em sua estreia na direção, que também assina o roteiro ao lado de Joss Whedon. Os dois tem passagem pela televisão e por outras produções de terror (“Cloverfield – Monstro” para Goddard e “Alien – A Ressurreição” para Whedon). O roteiro é muito bem escrito e os diálogos são cheios de humor. A direção é… Trivial.
O elenco tem os desconhecidos Kristen Connolly, Fran Kranz e Jesse Williams, e os conhecidos Chris Hemsworth (o Thor), Richard Jenkins e Bradley Whitford. Os dois últimos no papel dos cientistas “roteiristas”, provavelmente interpretando Whedon e Goddard no final das contas.